segunda-feira, 5 de maio de 2014

Mina De Fé ou A Maria Mic?

Há muito tempo atrás tivemos o dia da mulher, comecei a escrever esse post dois dias depois e por algum motivo não terminei, hoje por motivos pessoais resolvi retomar essa primeira abordagem do assunto. Sempre tenho essa coisa de falar sobre determinados assuntos quando a poeira já baixou, na tentativa de não passar despercebida na multidão de informação que aparecem em alguns dias específicos do ano, ou após acontecimentos marcantes.
O fato é que quando paro pra pensar na FORMAÇÃO do meu gosto musical, especificamente falando de RAP, não encontro referências femininas que de fato pesem nessa primeira constituição. Poderia sim ser hipócrita e citar Dina Di, mas como ficou claro em outras postagens (assim espero) não tenho a menor pretensão de me encaixar falsamente nos parâmetros impostos pelo RAP Nacional pra eu possa ser legitimada.
A questão fundamental é: essas referências existem, mas por algum motivo precisamos ir fundo demais pra que possamos vê-las. E esse motivo é claro como água, em pleno 2014 o RAP ainda é extremamente machista.
Para além daquelas mulheres que contribuem artisticamente, temos inúmeras outras que fazem parte do público, essas por sua vez além de possuírem a obrigação de manter certa conduta exigida por grande parte do "militantes", ainda precisam corresponder aos critérios do que gostam de chamar, mina de fé.
Essa é aquela que está sempre ao lado do seu homem, independente do que ele faça, ela sempre vai fechar com ele. Algumas vezes penso que essa idealização feminina, como guerreira que ama incondicionalmente esta diretamente relacionado com a posição que as mães ocupam dentro desse universo, principalmente as mães solteiras. Mas o que não faz sentido é que se esse trabalho é tão reconhecido, por que continuamos no mesmo ciclo? Pq os homens que são criados por essas mulheres, continuam abandonando outras mulheres? São respostas tão complexas que nem cabem nos devaneios que publico aqui, mas uma coisa é certa, estamos errando.
Por outro lado, temos a Maria Mic. Ah Maria! Muitos dizem que você representa o que existe de mais podre em nossa sociedade. Só quer status, é interesseira e já rodou na mão de todos os manos. Não existe a possibilidade de você simplesmente ser livre e segura pra fazer o que bem entende. E ainda pior, não existe a menor possibilidade de que a mina de fé e a Maria sejam a mesma pessoa. Afinal de contas nosso mundo é divido em opostos claros, dualidades, não é possível que sejamos uma mistura dos todos, não é mesmo?
Claro que estaria sendo idiota em dizer que não existem pessoas interesseiras e você seria mais idiota ainda em achar que você não é uma pessoa interesseira. Todo mundo possui um grau maior de interesse em certos aspectos ou em outros.
Fico intrigada com o fato de nunca ter visto ninguém falando mal dos manos que tão pegando essas minas, se elas são tão péssimas, pegar ela faz de você mano que tipo de pessoa?
Apenas pelo fato de ser mulher você precisa ser 100 vezes melhor pra colar nesse role, você tem que achar normal quando olham espantados se diz que ama rap, você não pode beijar e nem transar com quem quiser, você não pode ser nenhum tipo de Maria, você precisa ser o que eles disseram que você precisa ser, você tem que se dar ao respeito, VOCÊ PRECISA SE FAZER DE DIFÍCIL.
Se fazer! Sempre dou uma risada amarela quando lembro que hoje, 2014, eu preciso ser quem eu não sou, eu preciso me fazer outra pessoa pra poder colar num role que me atraiu justamente pq me olhou e disse: Venha como está, aqui é terra de todos que clamam verdade.
Benditos sejam os de olhos empáticos pois deles é o reino da justiça.

sexta-feira, 14 de março de 2014

Em qual mentira vou acreditar?

Penso cá com meus botões que as pressões feitas pela sociedade, principalmente os jovens que há quase uma década atrás ansiavam pela oportunidade de acessar a Universidade pública, gratuita e de qualidade resultaram, apesar de todas as discussões, em resultados positivos como as cotas e prouni somado é claro com o mérito pessoal de cada aluno e atualmente, percebo muito mais pessoas que assim como eu, moram nas áreas periféricas de Curitiba e RMC, frequentando a UFPR, campus reitoria especificamente. Lembro-me que no ensino médio no CEP(Colégio Estadual do Paraná) e no primeiro ano do curso de filosofia lá em 2006 os "lutadores" bradavam aos quatro cantos que "É pelo SEU direito de frequentar a Universidade!". Meu!
É claro, eles já estavam lá e alguns ainda continuam. Era engraçado, me chamavam de Osternack, (posteriormente Mr. Hate) os que não me conheciam pensavam que era o nome da família tradicional de Curitiba e se assustavam e riam-se quando descobriam que era o bairro em que moro até hoje. Mas enfim conseguimos aos trancos e barrancos os moradores das periferias de Curitiba e RMC(Região Metropolitana de Curitiba) alcançar as colunas da UFPR e claro que vários problemas surgiram, a grande evasão seja por uma péssima formação nos anos do ensino público, seja por problemas financeiro-familiares, sendo esses últimos completamente ignorados pelos movimentos. Era certo que com a crescente demanda pelo ensino superior e o consequente aumento no número de alunos sugiram alguns problemas de ordem estrutural na Universidade, como inchaço do RU, a falta de acessibilidade nos prédios, mas não só para as pessoas portadoras de deficiência. Tendo em vista todas as discussões sobre mobilidade urbana vou aproveitar o embalo e puxar a brasa não só para minha sardinha, mas para a de muitos outros também, assim como os militantes profissionais o fazem.
É de conhecimento de todos que usam o sistema de transporte público de Curitiba que esse sistema está, para ser educado, inchado e para quem leva uma jornada dupla, por vezes tripla, torna-se impossível depender de tal sistema, como o preço atual da passagem a R$ 2,70 e o preço da gasolina oscilando entre R$2,80 e R$3,00 é muito mais viável e econômico se utilizar de uma moto para se descolar entre casa, trabalho e universidade, afinal a moto ao longo do tempo acaba "se pagando" mesmo que seja um modelo um pouco mais caro, é só fazer as contas. Está aqui a minha dúvida, todo esse esforço para incluir as pessoas que moram nas periferias da cidade na universidade e quando lá elas chegam são proibidas de estacionar suas motos no pátio da Reitoria para não atrapalhar jogo de bolinha, peteca, etc. Alguns vão dizer que existe o bicicletário, é verdade existe sim, mas quero ver o aluno que vem do Tatuquara de bike para aula, depois trampo, depois casa, isso vai dar por baixo uns 70km por dia, outros vão dizer o seguinte que existe três estacionamentos de motos ao redor da reitoria, é verdade também, e funciona assim: "aos vencedores as batatas", só essa semana vi três motos de alunos sendo multadas pela setran, pois deixaram do lado da linha para ir assistir aula. E o pátio lá, ocioso.
Arrisco dizer que nunca houve, pelo menos nunca presenciei, um acidente envolvendo motos no pátio, outro ponto, embora exista uma ou outra moto de servidores em geral mais cara, a maioria esmagadora das motos que ali eram estacionadas era de baixa cilindrada com valor comercial de uns R$3.000, quase um iphone de muitos, ou seja, ninguém parava ali por bonito, isso sem contar a segurança, principalmente para os alunos da noite, afinal os entornos da reitoria não são como a Noruega como muitos sonham, outro ponto, muitos alunos da Santos Andrade também estacionavam ali. Afinal todos os outros campus possuem estacionamento para os alunos e nós das humanas nos expulsamos do campus ainda ficamos falando mal das engenharias... Até entendo os argumentos para a retirada das motos do pátio, mas a realidade é que isso foi transformado pelos "lutadores" em uma disputa radicalóide de rei do morro, onde empurra-se o outro do lugar para ficar simplesmente sentado. A ideia não é uma Reitoria exclusiva, mas sim inclusiva sem medidas radicais para nenhum dos lados. Sinto o cheiro da incapacidade de coexistir, e essa é apenas a ponta do iceberg.



Rafael Gessi, estudante de Ciências Socias e Policial Militar desde 2010.

quinta-feira, 6 de março de 2014

MAKAVELI- Am alive.


Tinha acabado de ser baleado em um cruzamento em uma rua em Las Vegas. Sabia que esse seria o seu fim, ainda mais com tantos desafetos que acumulou durante a vida. E apesar de ter sido pego de surpresa já tinha pensado consigo mesmo que a morte não deveria ser algo tão ruim e triste como a maioria das pessoas costumava pensar. Em tese, ela possibilitaria que ficássemos longe de tudo que há de ruim nesse mundo, na pior das hipóteses o outro lado seria apenas um grande nada silencioso e na melhor, seriamos algum tipo de espírito vagando em algum lugar, talvez um anjo de Deus. O que poderia haver de ruim nisso? Já tinha passado sua curta vida se dedicando à missão que pensava ter recebido de Deus, aquela que o possibilitava ajudar as pessoas, contando histórias, tocando de alguma maneira essas vidas, gerando transformação.


Papa'z song e Dear Mama.

                                                      "Minha mãe me ensinou três coisas: respeito, a busca
pelo conhecimento que é uma jornada eterna,
como se eu olhasse 360º para descobrir o conhecimento, sempre.
E ela me ensinou a não ficar calado"

           Afeni Shakur era ativista do Panteras Negras e apesar do sexismo que existia na época mesmo dentro de um movimento como esse, ela ocupava um cargo privilegiado dentro do partido. E mesmo que nessa causa contassem com a ajuda de muitos brancos o racismo permanecia forte, logo o movimento era uma ameaça à sociedade. O governo numa tentativa de amenizar a situação prendeu Afeni por conspiração junto com outros 20 Panteras e apesar de nunca ter cursado uma faculdade de direito, ela efetuou sua própria defesa de forma vitoriosa, e a de Tupac, que nesse momento estava em seu ventre, fruto germinado na prisão.
  
     Um mês após ser libertada no dia 16 de junho de 1971, nasceu Parish Lesane Crooks. Por questões políticas e por medo da perseguição, Afeni mudou o nome de seu filho para Tupac Amaru Shakur, possivelmente em homenagem ao revolucionário Túpac Amaru, que no fim do século XVIII liderou a maior rebelião indígena da América. O pai que Tupac conhecia, também era ativista do movimento, seu padrasto Mutulu Shakur, presença masculina que durou pouco em seu cotidiano, já que Mutulu havia sido acusado de vários crimes como roubo e facilitação de fuga junto com outros companheiros do Panteras Negras, e não tendo a mesmo sorte que Afeni, foi condenado a sessenta anos de prisão.
Pac sempre sentiu muito a falta de um pai durante a infância e adolescência, se sentia menos viril, inseguro, pois mesmo sendo grato pelo modo como foi criado por sua mãe, sentia que haviam coisas que apenas uma criação masculina poderia proporcionar. Um homem para ensinar a ser homem.
         
Apenas durante a infância, por volta dos 5 ou 6 anos Tupac chegou a conhecer quem era seu pai biológico, também ativista de alto cargo do Panteras Negras, Billy Garland. Perderam o contato após essa época, contato esse que só foi retomado quando Billy ouviu pelo rádio que seu filho havia sido baleado, no ano de 1994, dois anos antes do tiroteio que lhe tiraria a vida.
       O pai de Pac, afirma que o contato só foi perdido pois ainda garoto, o filho se muda para Baltimore. Sua mãe havia acabado de perder o emprego e se viciou em crack, vicio que durou muitos anos, passaram de cidades em cidades, conheceram diferentes vizinhanças. Pac começou a perceber que tudo que havia aprendido com sua mãe, sobre ajudar a comunidade, como analisar em certa medida a realidade, fazia muito sentido. Por mais que se mudassem, as histórias de pobreza, violência e descaso se repetiam, o problema não era só com a família dele, mas era seu povo que estava sendo perseguido.
Ainda com todos os problemas que teve com sua mãe, ele nunca deixou de ser extremamente fiel à ela, como em Dear Mama: "E mesmo sendo viciada em crack, você sempre será minha rainha negra mãe." A Música toda diz respeito à gratidão que sentia pelo modo como havia sido criado, os problemas que passaram não poderiam apagar tudo de bom que ela havia feito por ele. Paralelo a todo esse caos sua vida dá um passo importante em relação ao que mais tarde seria sua carreira, ingressa na Baltimore School of Performing Arts, onde teve aulas de teatro, balé e onde aprendeu a ouvir todos os tipos de música, tudo isso combinado com sua educação vinda da ideologia do Panteras Negras. Porém com todos os problemas que surgiram em casa com sua mãe viciada, ainda sem emprego, foi obrigado a mudar para Marin City, Califórnia, em mais uma tentativa de fugir da violência, frustrada, pois a primeira coisa que viu quando chegou lá foi um corpo, um homem que havia sido degolado pois havia cuspido na filha da vizinha.
 
      Sem dinheiro e com notas insuficientes para poder se formar, ele acabou abandonando a escola e foi nesse momento que começou a vender drogas, o que segundo ele durou apenas duas semanas devido à sua inaptidão para as vendas, os traficantes então lhe deram todo o apoio necessário para que ele realizasse seu sonho, viver de rap. Ajudaram como uma forma de patrocinadores mas também lhe deram segurança, foram exemplos, de certa maneira preencheram o buraco deixado pela falta de relação com seu pai. E mesmo que tenha seguido os exemplos que a sociedade julga errados, traficantes, cafetões, prostitutas, para ele o que recebia era só amor.


Same song.
        Em 1989 conheceu Leila Steinberg que organizava workshops onde jovens podiam se expressar. A afinidade foi mutua, pois Tupac acreditava que Leila poderia lhe ajudar a chegar onde ele almejava, então observando a vida que ele levava, o quão viciada a mãe estava em crack, percebeu que ele jamais poderia manter uma carreira e ir à escola, então dois meses depois Tupac foi morar na casa onde Leila vivia com o marido e filhos. A relação dos dois era pautada em uma busca conjunta por conhecimento, estavam sempre envolvido em leituras que iam desde O Livro Tibetano dos Mortos até a Arte da Guerra.
        Por meio de Leila o nome de Tupac chegou até Atron Gregory, que na época cuidava do um grupo chamado Digital Underground. Um encontro com o líder do grupo foi marcado, Shock G.
        Quando Pac apresentou a eles sua arte, todos do grupo conseguiam reconhecer sua rimas acima da média e viam em sua frente um talento que não podia ser desperdiçado. Ele havia conseguido seu primeiro contrato. Foi convidado para a primeira turnê do Digital Underground, onde seria uma espécie de auxiliar, faria contatos, aprenderia coisas.       Sempre que podia pegava o microfone, no final dos shows, das festas, queria que as pessoas o vissem. Então quando o grupo lançou o segundo disco, intitulado Ep Release, Tupac escreveu Same Song, a partir desse momento o grupo virou sua família.

Pac's Theme
        Apesar de ter conhecido muitas coisas nas cidades em que viveu, Tupac dizia que só aprendeu a jogar o jogo, quando mudou para Oakland.
        O jogo que ele se referia era a indústria cultural, durante toda sua vida foi assim que se referiu ao tema na grande maioria das vezes. Se orgulhava de poder dizer que estava ganhando nesse jogo, que as pessoas que o desprezavam, agora estavam pagando para ele fazer exatamente o que queria. A sociedade tinha mais um grande problema, Pac era instruído, irreverente e totalmente franco, tão franco a ponto de o vice-presidente Dan Quayle, falar sobre ele em um de seus discursos dizendo não haver lugar para esse tipo de música naquela sociedade.
        Seu primeiro álbum solo se chama 2pacalypse Now 1991, retrata histórias da juventude negra em situações diversas, como gravidez, brutalidade policial por exemplo, é de longe um de seus álbuns mais políticos.
        Seu processo criativo é descrito como visceral, sempre que pensava em algo, precisava escrever na hora e tentava até que todas as palavras se encaixassem, quando chegava no estúdio, já tinha tudo pronto em sua cabeça, sabia exatamente sobre o que e como falar. Quando cantava, era como se o som saísse da boca de seu estômago. Gravava músicas uma atrás da outra, sem nunca se preocupar em ouvir em seguida. Seus discos normalmente ficavam prontos em poucos dias.
        THUG LIFE, foi a filosofia predominante em sua vida, como seria possível unificar e ajudar as pessoa enquanto protegia sua cultura e estilo de vida que não estavam sendo representados por nenhum politico em Washington? Quando usava a palavra THUG ela ia além do dicionário, não estava falando de bandidos, pessoas que batem em mulheres ou assaltantes, para ele ser negro era ser ignorado. Thug Life é o que a sociedade pensava sobre as minorias. Em um episódio tentou intervir em um confusão que envolvia um motorista negro, e acabou atirando em autodefesa contra dois policias que estavam de folga, durante o julgamento foi descoberto eles tinham bebido, a arma usada para ameaça Tupac havia sido roubada do departamento de provas. Quando indagado sobre a presença ou não de remorso pelo ocorrido, notamos um Tupac muito mais agressivo e irônico do que aquele de outrora ele diz: "eu sentiria se pudesse, mas não posso. [...] não há remorso quando um filho da puta quer me ferrar. Então todos eles podem morrer. Até me respeitarem como homem e todos os negros. Todos eles podem morrer, é sério. Se continuarem, mais filhos da puta vão morrer. enquanto tiverem balas, a justiça vai ser feita por aqui" esse discurso pode ser visto como um tentativa de fabricação dessa imagem de fora da lei, mas existe um movimento muito forte de auto personificação não com o intuito de criar uma imagem, mas que dizia respeito ao papel de porta-voz que acreditava desempenhar. Sua busca era se manter verdadeiro, independente de que forma se manifestaria essa sua verdade, por isso sua vida é cheia de contradições, andava no meio dos caminhos, escrevia sobre respeitar as mulheres e em outros momentos a chamava de vadias. Não parecia preocupado com o reflexo disso na opinião das pessoas. O que vivia, escrevia era apenas resultado do que o país tinha feito com ele, não entendia por que se espantavam com suas letras. Queria ajudar as pessoas, mas se recusava a assumir o papel de exemplo santo, de construir a imagem x ou y diante da mídia.
        A fama trouxe os carros, as joias e as mulheres. Mas isso começou a incomodar a partir do momento em que lembrou que sua criação dizia que ele devia servir a comunidade e até seus bens materias deveriam ser sacrificados, isso com certeza o fez trabalhar mais.
         Em curto espaço de tempo, suas músicas foram se tornando mais intimistas, muitas falam sobre suicídio e estresse :
"Há muita pressão na vida que eu levo. Eu choro as vezes. Eu pensei em me suicidar e eu tentei mas quando eu peguei aquela arma eu pude ver os olhos da minha mãe. Ninguém vê os meus problemas eles só veem as confusões."
        Em 1993 foi acusado juntamente com mais dois homens de sodomia e estupro por parte de uma fã com quem Pac já havia tido relações na semana anterior, e que chegou a ele através de um dos outros dois acusados. Tupac porém era o único do grupo que estava sendo de fato julgado. Após pagar uma fiança de 50 mil dólares para ser liberado do primeiro momento na cadeia, foi supostamente assaltado enquanto entrava no elevador de uma gravadora em NY e levou 5 tiros. Deixou o hospital em uma cadeira de rodas sem nenhuma ordem médica e pouco tempo depois recebeu seu veredito, inocente de sodomia e estupro, mas culpado de investida sexual, relatos de alguns presentes dizem que a medida do juiz se deu ao fato de que após ficar famoso Tupac arrumou problema atrás de problema, por isso estava recebendo essa sentença. Todo esse processo durou cerca de 2 anos, extremamente desgastantes para Pac.
        Pouco depois de receber sua sentença, lança o álbum Me Against The World, onde aparece a música Death Around The Conner, música que muitos dizem ser uma espécie de profecia sobre sua morte "Eu vejo a morte na esquina, tenho que ficar esperto enquanto estou vivo[...]Fico estressado com minha pistola embaixo da fronha, isso não é bom. Serei eu um paranoico? [...]Alguns esperam que eu morra como eu vivi, como um bandido."
        Após quase um ano preso entrou com uma apelação, mas não foi capaz de juntar 1,4 milhões de dólares para pagar a fiança. Nesse momento aparece Suge Knight, presidente da gravadora Death Row Records, que ofereceu o dinheiro da fiança em troca de 3 discos gravados e lançados por Tupac pela sua gravadora. Assim que saiu da cadeia, foi direito para estúdio e em pouco tempo lançou All Eyez On Me, disco duplo considerado hoje um dos grandes clássicos do mundo do rap. Suge estava envolvido em uma vida muito controversa também, os amigos disseram que Pac havia assinado um pacto com o diabo.


Hit 'em up.
        Um dos maiores conflitos que a mídia ajudou a construir foi a rivalidade entre a Costa Leste e a Costa Oeste dos Estados Unidos. A primeira era representada pelo rapper Notorious B.I.G e a segunda por 2Pac.
        A carreira de BIG de certa maneira aproveitou o caminho antes trilhado por Pac, muitos passaram pelas controversas portas que ele havia aberto. Os dois possuíam diferenças na forma de fazer música, BIG possuía um gingado maior enquanto Tupac era um poeta, sua letras eram mais pesadas.
        Quando aconteceu o assalto em 1994, no elevador da gravadora. Pac deu entrevistas acusando Puffy Daddy, produtor de Notorious de ter armado contra ele. E apesar de P.Daddy ter negado as acusações, Pac manteve sua versão firme até o final, pois dizia ser o único que estava lá o tempo todo, que viu como toda a história aconteceu. Esse episódio além do prejuízo físico, trouxe um grande choque psicológico, antes disso Tupac realmente achava que nenhum outro negro seria capaz de lhe fazer mal.
        Em 1995, Notorious lança uma música chamada Who Shot Ya? supostamente feita para Pac, no ano seguinte Hit 'em up foi lançada em resposta "Quem atirou em mim, não teve o dom de finalizar."
        O ataque verbal entre os dois ex-amigos já seria muito sério pelo simples fato da visibilidade que possuíam, porém com a ajuda da mídia, a rivalidade começou a crescer entre os fãs também, e foi ai que a coisa começou a sair do controle. Os dois já não sabiam mais como voltar atrás.
        No dia 7 de setembro de 1996, quando saia de uma luta de Mike Tayson, parou em um cruzamento em uma rua de Las Vegas, um carro se aproximou e disparou cerca de 13 tiros contra o carro de Pac, que foi atingido na cabeça, virilha, mão, além da bala que ricocheteou no pulmão, enquanto Suge, o único que estava com Tupac no carro, apenas foi atingido de raspão na cabeça.
        Pac foi levado mortalmente ferido ao hospital, sobreviveu a várias cirurgias, inclusive a retirada do pulmão direito. Lutou durante quase uma semana, e em 13 de setembro, foi declarado morto.
        Morreu e multiplicou. Mesmo tantos anos depois de ter sido declarado morto, seus cds continuam vendendo como se nada tivesse acontecido, inúmeros álbuns póstumos foram lançados, ele havia se certificado de deixar muito material gravado, livros de poesia. Sua intenção era mudar o mundo, e quando aos 17 anos saiu de casa, ele realmente achava que poderia fazer isso. Depois de tantos anos em meio ao jogo da indústria cultural, mídia, vida pessoal, todas as angustias que vivia, a briga interna e eterna da luz e escuridão, reconheceu como sua mãe fizera anos antes, que apenas estava preparando o caminho para as próximas gerações.

" A mensagem é que os jovens negros podem fazer qualquer coisa se nos derem uma chance, parem de tentar acabar conosco. E, aos meus amigos, precisamos nos controlar. Não digo que mudarei o mundo, mas com certeza iluminarei a mente que mudará o mundo. Então, continue de cabeça erguida. Faça o que tenha que fazer. E, ai, eu renascerei em você.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Sempre tive um sonho essa é minha obsessão...

No último sábado tive a oportunidade de participar de um evento em uma ocupação que existe aqui em Curitiba-Pr chamada Nova Primavera. Lá aconteceu uma fala feita pelo Eduardo (ex-Facção Central), e desde então venho pensando em muitas questões.
Nunca gostei muito das músicas que o Facção Central fazia, sempre acreditei que podemos conscientizar as pessoas de uma maneira a não fomentar o ódio cego que dificulta o diálogo. E acredito que nesse ponto se o Eduardo me ouvisse, ele discordaria firmemente.
Em sua fala de sábado, e em tantas outras que já o vi fazendo, fica claro que a ideia central é que "tomemos tudo de assalto". Porém isso vai totalmente de encontro com outra fala dele que basicamente era: se o povo da periferia, por ser privado de educação, não consegue ingressar em uma universidade pública e que pagar uma faculdade particular é o mesmo que financiar o burguês que todos os dias alimenta o sistema podre em que vivemos, então não é de interesse que o gueto adentre o ensino superior.
Ora, se a ideia é que tomemos tudo, do que nos adianta incorporar o discurso de que universidade não é nosso lugar? O Hip-Hop precisa muito mais do que Mcs e DJs, Grafiteiras e Grafiteiros, Bboys e Bgirls. Ele precisa de advogados, cientistas sociais, assistentes sociais, médicos, engenheiros, administradores e tudo mais que você possa imaginar.
Pois se a escola pública nos ensina a como ser um bom proletariado, a universidade em grande proporção nos ensina a reproduzir padrões de grupos específicos. Pois, como queremos médicos humanizados, ou um sistema gratuito de saúde melhor, se a pessoa que tem as rédeas disso, não faz a menor ideia do que a periferia precisa? Quem melhor do que nós, para cuidarmos de nós mesmo?
Por isso digo: É DE TOTAL INTERESSE QUE A PERIFERIA ESTEJA EM TUDO!
Eduardo, estudou até a quinta série, com seu próprio esforço e dedicação, foi além, e escreveu um livro chamado A Guerra Não Declarada Na Visão De Um Favelado. Todo o crescimento que ele obteve é sem duvida admirável, mas acreditar que isso seria assim com todos, me parece como acreditar na tal meritocracia que tanto criticamos, pois num sistema de privilégios e oportunidades desiguais, o mérito é apenas uma mais uma mentira.
No primeiro texto que escrevi para o Vanguarda do Rap Nacional (clique aqui para ler), eu estava no primeiro semestre de um novo curso que resolvi fazer na universidade. Eu já havia escutado muitos RAPs Nacionais que falavam sobre o holocausto, mas só fui realmente me atentar para o fato quando comecei a estudar mais sobre o assunto em uma das disciplinas. Muito aprendi com música, muito aprendi estudando, porém muita coisa da música só aprendi por que tive a oportunidade de estudar. E me digam vocês, depois de provar tudo isso que tipo de pessoa eu seria se não quisesse isso para meus irmãos?
Quero que fique claro que não estou dizendo aqui que a universidade é o caminho da verdade e que todos temos que passar por ela. Eu estou dizendo que precisamos lutar para que você que está lendo esse texto possa fazer o que escolher fazer, sem que outros te digam onde é ou não o seu lugar.
Antes do livro que o Eduardo escreveu ser lançado, três anos atrás eu me dei conta do que realmente acontecia em minha volta e fiz um apelo a todos que por algum motivo estavam lendo o que eu escrevi e hoje mais do que anos atrás, mais madura e mais convicta, volto dizer:
A GUERRA AGORA É SILENCIOSA E MAIS ASTUTA DO QUE NUNCA, POR ISSO EU IMPLORO- ESCOLHAM MUITO BEM AS SUAS ARMAS.





quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Verdadeiro ou falso?

Alguns anos atrás, ouvi meu primeiro RAP.
Ao contrário de muitos não vou tentar dizer que era um super clássico dos anos 80 pra então me afirmar como real. Foi uma música dos anos 90, do final pra ser mais exata. Diário de um detento.
Apesar de nunca ter tido uma vida fácil, não tenho do que reclamar e sei que nem de longe sofri os preconceitos que muitos que vivem na periferia sofreram e ainda sofrem. A vila em que eu passava minhas férias era pra mim o único lugar em que eu me sentia livre, logo, o RAP era o som dessa liberdade.
Nunca tive ninguém que me ajudasse a conhecer mais sobre o assunto, todos estavam preocupados demais em apontar o dedo e dizer que aquilo não me pertencia pelo simples fato de eu morar no centro da cidade.
Na lógica que eles seguiam, eu não era digna daquelas rimas, ainda que elas pregassem união e igualdade. Então, eu segui como pude enfrentando todos que tentavam me negar aquilo. Nenhum deles parecia entender o tamanho do meu amor.
E hoje, cerca de 17 anos depois, alguns deles ainda não compreendem.
No dia 16/01/2014 eu estou oficialmente cansada!
A relação que eu tenho com a música, o crescimento que ela me trouxe, fez com que eu desejasse isso para outras pessoas e ainda mais, que eu fosse parte disso. Como diz um grande Mc "Eu já me senti livre, e hoje eu quero sentir que eu livro".
Porém, tenho vivido uma longa e solitária luta, que se tornou ainda mais amarga desde que ingressei no ensino superior. Em um lugar que também prega igualdade, em um lugar cheio de histórias incompreendidas como a minha, o lugar em que os vencidos lutam para vencer. Eu fui derrotada.
Dia após dia ouço as piadas sobre "o meu mundo" sobre "pessoas como eu" e eu estava achando graça, afinal de contas, piadas como "rap é coisa de bandido" não são tão graves quanto piadas sobre mulheres ou de negros não é mesmo?
Se me perguntassem dois dias atrás, eu diria com veemência que meus estudos são importantes para o Hip Hop, já que eu sei do meu amor, já que eu sei das minhas intenções.
Pra aqueles que já leram algumas coisas que escrevi para o Vanguarda do Rap Nacional, esse texto aqui pode parecer meio estranho, pq simplesmente é um desabafo (se é que alguém vai ler isso).
Quando dei uma olhada nas minhas publicações antigas, fiquei tentando imaginar quando foi que perdi aquele brilho da luta, não sei em que parte do caminho em que isso ficou, mas hoje será retomado.
Ouvirei músicas antigas, voltarei ao primeiro amor, e verei por fim meus próprios conselhos:
"Sei que é muito bom quando pensamos idealmente tudo o que o Rap deveria fazer, como deveria agir, que lugares deveria ou não frequentar, nos preocupamos com grupos premiados ou não no VMB, em julgar se fulano se vendeu, se ciclano caiu em contradição e nos preocupamos com tantas mesquinharias, muito mais do que
com as crianças que estão em pleno 2013 cantando Castelo de Madeira, por exemplo.
Precisamos aprender a trabalhar com o que temos de fato em nossas mãos, nos preocupar com o que realmente importa e quem sabe ouvir um pouco mais os conselhos dos mais experientes: "vamos voltar a realidade". Essa tem sido minha luta diária.
E você, pelo que tem lutado?"