segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Sempre tive um sonho essa é minha obsessão...

No último sábado tive a oportunidade de participar de um evento em uma ocupação que existe aqui em Curitiba-Pr chamada Nova Primavera. Lá aconteceu uma fala feita pelo Eduardo (ex-Facção Central), e desde então venho pensando em muitas questões.
Nunca gostei muito das músicas que o Facção Central fazia, sempre acreditei que podemos conscientizar as pessoas de uma maneira a não fomentar o ódio cego que dificulta o diálogo. E acredito que nesse ponto se o Eduardo me ouvisse, ele discordaria firmemente.
Em sua fala de sábado, e em tantas outras que já o vi fazendo, fica claro que a ideia central é que "tomemos tudo de assalto". Porém isso vai totalmente de encontro com outra fala dele que basicamente era: se o povo da periferia, por ser privado de educação, não consegue ingressar em uma universidade pública e que pagar uma faculdade particular é o mesmo que financiar o burguês que todos os dias alimenta o sistema podre em que vivemos, então não é de interesse que o gueto adentre o ensino superior.
Ora, se a ideia é que tomemos tudo, do que nos adianta incorporar o discurso de que universidade não é nosso lugar? O Hip-Hop precisa muito mais do que Mcs e DJs, Grafiteiras e Grafiteiros, Bboys e Bgirls. Ele precisa de advogados, cientistas sociais, assistentes sociais, médicos, engenheiros, administradores e tudo mais que você possa imaginar.
Pois se a escola pública nos ensina a como ser um bom proletariado, a universidade em grande proporção nos ensina a reproduzir padrões de grupos específicos. Pois, como queremos médicos humanizados, ou um sistema gratuito de saúde melhor, se a pessoa que tem as rédeas disso, não faz a menor ideia do que a periferia precisa? Quem melhor do que nós, para cuidarmos de nós mesmo?
Por isso digo: É DE TOTAL INTERESSE QUE A PERIFERIA ESTEJA EM TUDO!
Eduardo, estudou até a quinta série, com seu próprio esforço e dedicação, foi além, e escreveu um livro chamado A Guerra Não Declarada Na Visão De Um Favelado. Todo o crescimento que ele obteve é sem duvida admirável, mas acreditar que isso seria assim com todos, me parece como acreditar na tal meritocracia que tanto criticamos, pois num sistema de privilégios e oportunidades desiguais, o mérito é apenas uma mais uma mentira.
No primeiro texto que escrevi para o Vanguarda do Rap Nacional (clique aqui para ler), eu estava no primeiro semestre de um novo curso que resolvi fazer na universidade. Eu já havia escutado muitos RAPs Nacionais que falavam sobre o holocausto, mas só fui realmente me atentar para o fato quando comecei a estudar mais sobre o assunto em uma das disciplinas. Muito aprendi com música, muito aprendi estudando, porém muita coisa da música só aprendi por que tive a oportunidade de estudar. E me digam vocês, depois de provar tudo isso que tipo de pessoa eu seria se não quisesse isso para meus irmãos?
Quero que fique claro que não estou dizendo aqui que a universidade é o caminho da verdade e que todos temos que passar por ela. Eu estou dizendo que precisamos lutar para que você que está lendo esse texto possa fazer o que escolher fazer, sem que outros te digam onde é ou não o seu lugar.
Antes do livro que o Eduardo escreveu ser lançado, três anos atrás eu me dei conta do que realmente acontecia em minha volta e fiz um apelo a todos que por algum motivo estavam lendo o que eu escrevi e hoje mais do que anos atrás, mais madura e mais convicta, volto dizer:
A GUERRA AGORA É SILENCIOSA E MAIS ASTUTA DO QUE NUNCA, POR ISSO EU IMPLORO- ESCOLHAM MUITO BEM AS SUAS ARMAS.





quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Verdadeiro ou falso?

Alguns anos atrás, ouvi meu primeiro RAP.
Ao contrário de muitos não vou tentar dizer que era um super clássico dos anos 80 pra então me afirmar como real. Foi uma música dos anos 90, do final pra ser mais exata. Diário de um detento.
Apesar de nunca ter tido uma vida fácil, não tenho do que reclamar e sei que nem de longe sofri os preconceitos que muitos que vivem na periferia sofreram e ainda sofrem. A vila em que eu passava minhas férias era pra mim o único lugar em que eu me sentia livre, logo, o RAP era o som dessa liberdade.
Nunca tive ninguém que me ajudasse a conhecer mais sobre o assunto, todos estavam preocupados demais em apontar o dedo e dizer que aquilo não me pertencia pelo simples fato de eu morar no centro da cidade.
Na lógica que eles seguiam, eu não era digna daquelas rimas, ainda que elas pregassem união e igualdade. Então, eu segui como pude enfrentando todos que tentavam me negar aquilo. Nenhum deles parecia entender o tamanho do meu amor.
E hoje, cerca de 17 anos depois, alguns deles ainda não compreendem.
No dia 16/01/2014 eu estou oficialmente cansada!
A relação que eu tenho com a música, o crescimento que ela me trouxe, fez com que eu desejasse isso para outras pessoas e ainda mais, que eu fosse parte disso. Como diz um grande Mc "Eu já me senti livre, e hoje eu quero sentir que eu livro".
Porém, tenho vivido uma longa e solitária luta, que se tornou ainda mais amarga desde que ingressei no ensino superior. Em um lugar que também prega igualdade, em um lugar cheio de histórias incompreendidas como a minha, o lugar em que os vencidos lutam para vencer. Eu fui derrotada.
Dia após dia ouço as piadas sobre "o meu mundo" sobre "pessoas como eu" e eu estava achando graça, afinal de contas, piadas como "rap é coisa de bandido" não são tão graves quanto piadas sobre mulheres ou de negros não é mesmo?
Se me perguntassem dois dias atrás, eu diria com veemência que meus estudos são importantes para o Hip Hop, já que eu sei do meu amor, já que eu sei das minhas intenções.
Pra aqueles que já leram algumas coisas que escrevi para o Vanguarda do Rap Nacional, esse texto aqui pode parecer meio estranho, pq simplesmente é um desabafo (se é que alguém vai ler isso).
Quando dei uma olhada nas minhas publicações antigas, fiquei tentando imaginar quando foi que perdi aquele brilho da luta, não sei em que parte do caminho em que isso ficou, mas hoje será retomado.
Ouvirei músicas antigas, voltarei ao primeiro amor, e verei por fim meus próprios conselhos:
"Sei que é muito bom quando pensamos idealmente tudo o que o Rap deveria fazer, como deveria agir, que lugares deveria ou não frequentar, nos preocupamos com grupos premiados ou não no VMB, em julgar se fulano se vendeu, se ciclano caiu em contradição e nos preocupamos com tantas mesquinharias, muito mais do que
com as crianças que estão em pleno 2013 cantando Castelo de Madeira, por exemplo.
Precisamos aprender a trabalhar com o que temos de fato em nossas mãos, nos preocupar com o que realmente importa e quem sabe ouvir um pouco mais os conselhos dos mais experientes: "vamos voltar a realidade". Essa tem sido minha luta diária.
E você, pelo que tem lutado?"