sexta-feira, 14 de março de 2014

Em qual mentira vou acreditar?

Penso cá com meus botões que as pressões feitas pela sociedade, principalmente os jovens que há quase uma década atrás ansiavam pela oportunidade de acessar a Universidade pública, gratuita e de qualidade resultaram, apesar de todas as discussões, em resultados positivos como as cotas e prouni somado é claro com o mérito pessoal de cada aluno e atualmente, percebo muito mais pessoas que assim como eu, moram nas áreas periféricas de Curitiba e RMC, frequentando a UFPR, campus reitoria especificamente. Lembro-me que no ensino médio no CEP(Colégio Estadual do Paraná) e no primeiro ano do curso de filosofia lá em 2006 os "lutadores" bradavam aos quatro cantos que "É pelo SEU direito de frequentar a Universidade!". Meu!
É claro, eles já estavam lá e alguns ainda continuam. Era engraçado, me chamavam de Osternack, (posteriormente Mr. Hate) os que não me conheciam pensavam que era o nome da família tradicional de Curitiba e se assustavam e riam-se quando descobriam que era o bairro em que moro até hoje. Mas enfim conseguimos aos trancos e barrancos os moradores das periferias de Curitiba e RMC(Região Metropolitana de Curitiba) alcançar as colunas da UFPR e claro que vários problemas surgiram, a grande evasão seja por uma péssima formação nos anos do ensino público, seja por problemas financeiro-familiares, sendo esses últimos completamente ignorados pelos movimentos. Era certo que com a crescente demanda pelo ensino superior e o consequente aumento no número de alunos sugiram alguns problemas de ordem estrutural na Universidade, como inchaço do RU, a falta de acessibilidade nos prédios, mas não só para as pessoas portadoras de deficiência. Tendo em vista todas as discussões sobre mobilidade urbana vou aproveitar o embalo e puxar a brasa não só para minha sardinha, mas para a de muitos outros também, assim como os militantes profissionais o fazem.
É de conhecimento de todos que usam o sistema de transporte público de Curitiba que esse sistema está, para ser educado, inchado e para quem leva uma jornada dupla, por vezes tripla, torna-se impossível depender de tal sistema, como o preço atual da passagem a R$ 2,70 e o preço da gasolina oscilando entre R$2,80 e R$3,00 é muito mais viável e econômico se utilizar de uma moto para se descolar entre casa, trabalho e universidade, afinal a moto ao longo do tempo acaba "se pagando" mesmo que seja um modelo um pouco mais caro, é só fazer as contas. Está aqui a minha dúvida, todo esse esforço para incluir as pessoas que moram nas periferias da cidade na universidade e quando lá elas chegam são proibidas de estacionar suas motos no pátio da Reitoria para não atrapalhar jogo de bolinha, peteca, etc. Alguns vão dizer que existe o bicicletário, é verdade existe sim, mas quero ver o aluno que vem do Tatuquara de bike para aula, depois trampo, depois casa, isso vai dar por baixo uns 70km por dia, outros vão dizer o seguinte que existe três estacionamentos de motos ao redor da reitoria, é verdade também, e funciona assim: "aos vencedores as batatas", só essa semana vi três motos de alunos sendo multadas pela setran, pois deixaram do lado da linha para ir assistir aula. E o pátio lá, ocioso.
Arrisco dizer que nunca houve, pelo menos nunca presenciei, um acidente envolvendo motos no pátio, outro ponto, embora exista uma ou outra moto de servidores em geral mais cara, a maioria esmagadora das motos que ali eram estacionadas era de baixa cilindrada com valor comercial de uns R$3.000, quase um iphone de muitos, ou seja, ninguém parava ali por bonito, isso sem contar a segurança, principalmente para os alunos da noite, afinal os entornos da reitoria não são como a Noruega como muitos sonham, outro ponto, muitos alunos da Santos Andrade também estacionavam ali. Afinal todos os outros campus possuem estacionamento para os alunos e nós das humanas nos expulsamos do campus ainda ficamos falando mal das engenharias... Até entendo os argumentos para a retirada das motos do pátio, mas a realidade é que isso foi transformado pelos "lutadores" em uma disputa radicalóide de rei do morro, onde empurra-se o outro do lugar para ficar simplesmente sentado. A ideia não é uma Reitoria exclusiva, mas sim inclusiva sem medidas radicais para nenhum dos lados. Sinto o cheiro da incapacidade de coexistir, e essa é apenas a ponta do iceberg.



Rafael Gessi, estudante de Ciências Socias e Policial Militar desde 2010.

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