quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Verdadeiro ou falso?

Alguns anos atrás, ouvi meu primeiro RAP.
Ao contrário de muitos não vou tentar dizer que era um super clássico dos anos 80 pra então me afirmar como real. Foi uma música dos anos 90, do final pra ser mais exata. Diário de um detento.
Apesar de nunca ter tido uma vida fácil, não tenho do que reclamar e sei que nem de longe sofri os preconceitos que muitos que vivem na periferia sofreram e ainda sofrem. A vila em que eu passava minhas férias era pra mim o único lugar em que eu me sentia livre, logo, o RAP era o som dessa liberdade.
Nunca tive ninguém que me ajudasse a conhecer mais sobre o assunto, todos estavam preocupados demais em apontar o dedo e dizer que aquilo não me pertencia pelo simples fato de eu morar no centro da cidade.
Na lógica que eles seguiam, eu não era digna daquelas rimas, ainda que elas pregassem união e igualdade. Então, eu segui como pude enfrentando todos que tentavam me negar aquilo. Nenhum deles parecia entender o tamanho do meu amor.
E hoje, cerca de 17 anos depois, alguns deles ainda não compreendem.
No dia 16/01/2014 eu estou oficialmente cansada!
A relação que eu tenho com a música, o crescimento que ela me trouxe, fez com que eu desejasse isso para outras pessoas e ainda mais, que eu fosse parte disso. Como diz um grande Mc "Eu já me senti livre, e hoje eu quero sentir que eu livro".
Porém, tenho vivido uma longa e solitária luta, que se tornou ainda mais amarga desde que ingressei no ensino superior. Em um lugar que também prega igualdade, em um lugar cheio de histórias incompreendidas como a minha, o lugar em que os vencidos lutam para vencer. Eu fui derrotada.
Dia após dia ouço as piadas sobre "o meu mundo" sobre "pessoas como eu" e eu estava achando graça, afinal de contas, piadas como "rap é coisa de bandido" não são tão graves quanto piadas sobre mulheres ou de negros não é mesmo?
Se me perguntassem dois dias atrás, eu diria com veemência que meus estudos são importantes para o Hip Hop, já que eu sei do meu amor, já que eu sei das minhas intenções.
Pra aqueles que já leram algumas coisas que escrevi para o Vanguarda do Rap Nacional, esse texto aqui pode parecer meio estranho, pq simplesmente é um desabafo (se é que alguém vai ler isso).
Quando dei uma olhada nas minhas publicações antigas, fiquei tentando imaginar quando foi que perdi aquele brilho da luta, não sei em que parte do caminho em que isso ficou, mas hoje será retomado.
Ouvirei músicas antigas, voltarei ao primeiro amor, e verei por fim meus próprios conselhos:
"Sei que é muito bom quando pensamos idealmente tudo o que o Rap deveria fazer, como deveria agir, que lugares deveria ou não frequentar, nos preocupamos com grupos premiados ou não no VMB, em julgar se fulano se vendeu, se ciclano caiu em contradição e nos preocupamos com tantas mesquinharias, muito mais do que
com as crianças que estão em pleno 2013 cantando Castelo de Madeira, por exemplo.
Precisamos aprender a trabalhar com o que temos de fato em nossas mãos, nos preocupar com o que realmente importa e quem sabe ouvir um pouco mais os conselhos dos mais experientes: "vamos voltar a realidade". Essa tem sido minha luta diária.
E você, pelo que tem lutado?"

Um comentário:

  1. alguém leu essa publicação sim no dia 19/03/2014 as 23h58 haha rap significa liberdade e ninguém é dono da liberdade, então seja livre para curtir e viver o rap sem se preocupar com a opinião de ninguém

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