segunda-feira, 5 de maio de 2014

Mina De Fé ou A Maria Mic?

Há muito tempo atrás tivemos o dia da mulher, comecei a escrever esse post dois dias depois e por algum motivo não terminei, hoje por motivos pessoais resolvi retomar essa primeira abordagem do assunto. Sempre tenho essa coisa de falar sobre determinados assuntos quando a poeira já baixou, na tentativa de não passar despercebida na multidão de informação que aparecem em alguns dias específicos do ano, ou após acontecimentos marcantes.
O fato é que quando paro pra pensar na FORMAÇÃO do meu gosto musical, especificamente falando de RAP, não encontro referências femininas que de fato pesem nessa primeira constituição. Poderia sim ser hipócrita e citar Dina Di, mas como ficou claro em outras postagens (assim espero) não tenho a menor pretensão de me encaixar falsamente nos parâmetros impostos pelo RAP Nacional pra eu possa ser legitimada.
A questão fundamental é: essas referências existem, mas por algum motivo precisamos ir fundo demais pra que possamos vê-las. E esse motivo é claro como água, em pleno 2014 o RAP ainda é extremamente machista.
Para além daquelas mulheres que contribuem artisticamente, temos inúmeras outras que fazem parte do público, essas por sua vez além de possuírem a obrigação de manter certa conduta exigida por grande parte do "militantes", ainda precisam corresponder aos critérios do que gostam de chamar, mina de fé.
Essa é aquela que está sempre ao lado do seu homem, independente do que ele faça, ela sempre vai fechar com ele. Algumas vezes penso que essa idealização feminina, como guerreira que ama incondicionalmente esta diretamente relacionado com a posição que as mães ocupam dentro desse universo, principalmente as mães solteiras. Mas o que não faz sentido é que se esse trabalho é tão reconhecido, por que continuamos no mesmo ciclo? Pq os homens que são criados por essas mulheres, continuam abandonando outras mulheres? São respostas tão complexas que nem cabem nos devaneios que publico aqui, mas uma coisa é certa, estamos errando.
Por outro lado, temos a Maria Mic. Ah Maria! Muitos dizem que você representa o que existe de mais podre em nossa sociedade. Só quer status, é interesseira e já rodou na mão de todos os manos. Não existe a possibilidade de você simplesmente ser livre e segura pra fazer o que bem entende. E ainda pior, não existe a menor possibilidade de que a mina de fé e a Maria sejam a mesma pessoa. Afinal de contas nosso mundo é divido em opostos claros, dualidades, não é possível que sejamos uma mistura dos todos, não é mesmo?
Claro que estaria sendo idiota em dizer que não existem pessoas interesseiras e você seria mais idiota ainda em achar que você não é uma pessoa interesseira. Todo mundo possui um grau maior de interesse em certos aspectos ou em outros.
Fico intrigada com o fato de nunca ter visto ninguém falando mal dos manos que tão pegando essas minas, se elas são tão péssimas, pegar ela faz de você mano que tipo de pessoa?
Apenas pelo fato de ser mulher você precisa ser 100 vezes melhor pra colar nesse role, você tem que achar normal quando olham espantados se diz que ama rap, você não pode beijar e nem transar com quem quiser, você não pode ser nenhum tipo de Maria, você precisa ser o que eles disseram que você precisa ser, você tem que se dar ao respeito, VOCÊ PRECISA SE FAZER DE DIFÍCIL.
Se fazer! Sempre dou uma risada amarela quando lembro que hoje, 2014, eu preciso ser quem eu não sou, eu preciso me fazer outra pessoa pra poder colar num role que me atraiu justamente pq me olhou e disse: Venha como está, aqui é terra de todos que clamam verdade.
Benditos sejam os de olhos empáticos pois deles é o reino da justiça.